Os jogos são divertidos porque foram cuidadosamente projetados por game designers. E sim, a vida é um jogo e, mais que isso, ela é O GRANDE JOGO. Nela temos objetivo, regras, desafios, punições, recompensas, personagens, recursos, itens (remédios, cosméticos etc), skins (roupas, calçados e outros adereços), conquistas, cenários, fases, level-ups, minigames, upgrades (quando melhoramos nossa qualidade de vida), moedas, compra e venda, controle sobre nosso personagem, descontrole sobre o personagem dos outros, easter eggs (boas surpresas), vitórias, derrotas…
O problema é que:
- É complicado, para qualquer game designer, projetar o jogo da vida de uma pessoa que não a dele mesmo, dada a complexidade, quantidade de variáveis envolvidas, e a impossibilidade de jogar esse jogo para experimentá-lo e sentir como está ficando (o que agilizaria o processo). Essa impossibilidade é porque cada vida é diferente das outras e só pode ser experienciada por quem a vive, com seus próprios gostos, hábitos, traumas, habilidades, virtudes, defeitos, pontos de vista, recursos financeiros etc. O máximo que um bom game designer poderia fazer é reunir-se periodicamente com essa pessoa para perguntar e ouvir o que ela sentiu ao vivenciar as rotinas definidas na reunião anterior e fazer ajustes com base nesse feedback.
- Psicólogos, psicoterapeutas, coaches etc, que seriam os profissionais mais propícios a realizar esse processo, em geral, não sabem game design.
Sendo assim, esta é a primeira parte da resposta para a pergunta que dá título a este artigo:
Somos facilmente felizes jogando, porque os bons jogos foram cuidadosamente projetados, organizados e balanceados por bons game designers, restando-nos apenas a diversão de jogá-los. Em nossas vidas, contudo, já não é tão fácil assim, pois não é só jogar um jogo que já está projetado – assim era até o final da infância (ou adolescência), quando eram os nossos pais que regulavam quase tudo em nossas vidas. Ao chegarmos à maioridade (ou mesmo antes disso), nos deparamos com uma realidade mais complexa que a da infância e, na qual, não há um jogo definido, sendo nós mesmos os incumbidos de projetar o jogo que devemos jogar, e sem saber bulhufas de game design. É quando nos sentimos bastante perdidos. Uma situação que ilustra bem esse momento é a de quando precisamos escolher qual faculdade cursar.
É a partir de então que saber game design e aplicá-lo à própria vida cairia super bem! Ainda mais porque não existe jogo treino na vida, nem botão de pausa. Ou seja, mesmo sem você saber direito o que está fazendo, a verdade é que esse jogo já está rolando (mesmo antes de você identificá-lo) e cada movimento seu aumenta ou diminui suas chances de vencê-lo.
Mas se você é game designer ou tem esse conhecimento, saiba que, se bem projetada, sua vida se torna o jogo mais viciante e divertido que você já jogou, e, ao invés de querer escapar dela – usando drogas, jogando videogame ou valendo-se de outros artifícios que o desliguem da sua realidade -, você quererá ser cada vez mais consciente dela para não perder um lance sequer desse grande jogo. Foi exatamente o que aconteceu comigo, como relato no nosso Manifesto.
Por isso criei este blog tendo como tema central o Life Game Design, nome com o qual batizei essa abordagem. A ideia é compartilhar minha expertise como game designer (profissional desde 2010), mas, sobretudo, como ela pode ser aplicada à vida real, com exemplos da minha própria vida servindo de base para que outras pessoas possam compreender bem os conceitos e aplicá-los na forma e na medida de suas realidades e demandas.
Lembro-me de quando compartilhei isso pela primeira vez para um game designer. Foi em 2019, para o talentoso Pedro Thiers, meses antes de eu lançar este blog. Ele ficou surpreso ao se dar conta do quanto seu conhecimento, que já lhe era muito útil na vida profissional, poderia ajudá-lo também na vida pessoal.
Se quiser saber como o Life Game Design surgiu, leia o nosso Manifesto. Para ver um exemplo de aplicação, leia o artigo: Por que escolher entre trabalho e diversão se você pode ter os dois?.
Para ser avisado da publicação da parte 2 deste artigo, siga nosso Instagram @leandrocosta.blog. Lá você ainda poderá ver mais dicas sobre Life Game Design.
Até!