Minha paixão é pensar diferente, porém não sem base nem sem propósito. Gosto de pensar como um cientista, de investigar e entender profundamente uma situação, para então abordá-la de perspectivas não convencionais e elaborar alternativas mais eficientes. Foi assim que estudei a questão “jogos educativos são chatos” no meu Mestrado em Design, criando um método geral para se projetar tais jogos de forma que fossem mais educativos e tão divertidos quanto os jogos de entretenimento. O resultado tornou-se livro:
A repercussão da pesquisa também proporcionou meu primeiro emprego como game designer. A empresa era a Aiyra, que na época só desenvolvia jogos educativos e para fins de marketing para outras empresas.
Lá eu pude comprovar a eficácia do método que havia criado. Em 5 anos, foram mais de 75 games projetados e publicados para empresas e marcas como Globosat, Dragon Ball Z, Coca-Cola, Diamond Films, Ibmec, UOL, Brasil Game Show, Serasa Experian etc.
É claro que isso não se deveu unicamente ao método projetual. Embora todos estivéssemos começando, inclusive a empresa, éramos um time bastante entrosado e cada integrante muito competente e dedicado em suas funções. Foi um privilégio trabalhar com eles durante aqueles 5 anos.
Mas voltando a falar da pesquisa, uma das sete hipóteses que demonstrei ser verdadeira durante o Mestrado, e que tornou-se um dos 7 princípios do método, é: tudo, num jogo educativo, deve estar a favor da diversão e do entretenimento. Isto significa que os fatores educativos do jogo não precisam diminuir a diversão deste, pelo contrário, eles podem e devem, na grande maioria dos casos, melhorá-la – da mesma forma como as construções de conhecimento realizadas pelo jogador durante um jogo de entretenimento tornam-no mais divertido.
Fica, portanto, provado que a diversão não é inimiga da Educação, nem esta daquela. Na verdade, uma potencializa a outra quando o jogo educativo é bem projetado, tornando a experiência mais proveitosa quanto à quantidade e à qualidade das aprendizagens, e tão divertida quanto a dos melhores jogos de entretenimento.
O Insight
Após 10 anos trabalhando como game designer, comecei a perceber similaridades entre a minha forma de projetar os jogos educativos e a maneira com que eu projetava minha própria vida. Depois que saí da Aiyra e fundei minha empresa (Ludilens), ganhei mais liberdade de ação para determinar o quê, como, quando e onde fazer no meu dia a dia. Naturalmente passei a redesenhar minhas rotinas.
Não foi da noite para o dia, mas conforme eu conseguia implementar as mudanças e me habituar a elas, a vida foi se tornando mais agradável, leve e divertida ao mesmo tempo em que eu me tornava mais produtivo. Assim comecei a me interessar por examinar as similaridades entre a vida e o jogo, e tentar entender se, de fato, o Game Design poderia ser aplicado à vida como um tipo de sabedoria que conduzisse a uma experiência cotidiana melhor de ser vivida – assim como torna os jogos em experiências melhores de serem jogadas.
Comecei, portanto, a ligar os pontos.
Vida e Jogo possuem Estruturas Similares
Veja como ambos são similares em formas, funções e dinâmicas. Nos dois / os dois:
- Acontecem dentro de limites de tempo e de espaço
- Possuem ao menos 1 pessoa interagindo com o ambiente, mas geralmente mais de uma
- Têm início, meio e fim
- Possuem / demandam um objetivo ou propósito final, fazendo toda ação ganhar sentido dentro do viver ou do jogar
- Apresentam metas, mini objetivos que conduzem ao objetivo final
- São regidos por regras
- Apresentam obstáculos que nos impedem de seguir direto para o objetivo final
- Fornecem recursos que nos ajudam a vencer esses obstáculos
- Recompensam por cada obstáculo vencido
- Apresentam fases subsequentes que, em geral, vão gradualmente das mais fáceis para as mais difíceis, das mais restritas e tolerantes (infância / fases tutoriais) para as com maior liberdade de ação e implacáveis (vida adulta / jogo à vera).
- Cada fase nos prepara para a fase seguinte
- Toda ação gera consequência
- Fornecem feedbacks sobre a qualidade das nossas ações por meio de suas consequências, num sistema totalmente integrado.
- Respeitam nossas escolhas, mas não nos deixam escolher as consequências delas.
- Variam entre momentos de tensão e momentos de relaxamento
- Tendem à meritocracia
- Apresentam o elemento sorte, temperando ou intensificando o mérito / consequência das nossas ações
- Seus estados finais não são uma certeza até que se chegue a eles
- Ambos permitem muitos recomeços, muitas chances de fazer diferente
Se a estrutura dos jogos é tão similar à estrutura da vida, e o Game Design é a área de conhecimento e atuação que estrutura os jogos para que nos proporcionem prazer, alegria e motivação enquanto os jogamos, é razoável, por analogia, esperar que o Game Design também aponte maneiras de estruturar nossas vidas para que nos proporcionem prazer, alegria e motivação enquanto as vivemos.
“Ok, mas se a vida é tão similar aos jogos, por que é tão fácil ser feliz jogando e tão difícil ser feliz vivendo?” alguém naturalmente perguntaria. Ao que eu responderia: pelo mesmo motivo dos jogos educativos serem chatos mesmo possuindo estrutura similar à dos jogos de entretenimento. E que motivo seria este?
Diferentemente dos jogos de entretenimento, os jogos educativos não surgiram para atender uma demanda da área do Entretenimento, e sim da Educação: tornar o processo de aprendizagem mais interessante para os estudantes. Logo os primeiros jogos educativos foram projetados por professores, pedagogos e outros profissionais da área da Educação, que não entendem de diversão tão bem quanto entendem dos processos de ensino-aprendizagem.
Por outro lado, com a popularização dos dispositivos mobile (em especial dos smartphones) e da internet, os games extrapolaram as horas de lazer dos adolescentes e jovens adultos das classes média e alta para fazer parte da vida de todos. Na mesma época e pelos mesmos motivos, crescia a oferta e a demanda por cursos online.
Assim Instituições de Ensino buscavam criar jogos digitais educativos para ensinar seus conteúdos na linguagem que conquistava cada vez mais adeptos e prendia a atenção das pessoas. Para tanto, se viram obrigadas a lançar mão de profissionais que criam jogos digitais, já que a distância entre os conhecimentos dos professores e desses profissionais agora era nítida a todos por conta do componente software que precisava ser desenvolvido para o jogo funcionar.
O problema é que esses profissionais nunca precisaram se preocupar com outro objetivo que não o de divertir os jogadores. Então quando receberam a missão de criar jogos divertidos que também ensinassem / exercitassem conteúdos escolares, faltou-lhes know-how, e os resultados pendiam para o outro extremo: jogos divertidos, mas ineficientes do ponto de vista pedagógico.
Foi neste cenário, entre 2006 e 2008, que desenvolvi minha pesquisa.
A Proposta deste Blog
Se a vida é um tipo de jogo, ela não é um jogo de entretenimento. Não estamos aqui apenas para diversão. Filosófica, histórica, empírica ou espiritualmente constatamos que uma vida plenamente saudável e satisfatória demanda muito mais do que apenas prazer pelo prazer. Entendemos que esse “jogo” foi projetado (ou coincidentemente arranjado pelo acaso, como pensam os ateus) principalmente para nos ensinar lições que nos levem a fazer coisas que transformem para melhor a vida (ou o “jogo”) nossa e dos outros “jogadores”.
Assim sendo, a vida é um tipo de jogo educativo. E se fomos por tanto tempo errantes ao projetar jogos educativos, quão mais não temos sido ao projetar as nossas próprias vidas, que são bem mais complexas?
Criei este blog sobretudo para compartilhar com pessoas comuns como utilizo minha expertise de game designer para estruturar minha vida, tornando-a tão produtiva quanto uma fábrica e, ao mesmo tempo, o jogo mais divertido que já joguei.
Para game designers, líderes corporativos e profissionais da educação, de marketing e de outras áreas interessadas em Gamificação, este blog também será útil para o entendimento do Life Game Design (como chamo a abordagem que acabamos de relatar), da Gamificação Orgânica (minha forma de fazer gamificação a partir do Life Game Design), e o Framework dos 7 princípios (assunto do meu livro citado acima).
Finalmente psicólogos, psicopedagogos, psicanalistas, UX designers, mentores, coaches e qualquer pessoa interessada em desenvolvimento pessoal ou no estudo do comportamento humano poderão se beneficiar de nossos conteúdos para entenderem melhor como os game designers projetam ambientes e experiências que mudam a mentalidade do seu público-alvo para que façam de boa vontade coisas que comumente se negariam a fazer – haja vista o que acontece com os jogadores de Pokémon Go rs.
Para me conhecer melhor, acesse a seção Sobre mim.
Até a próxima e nunca se esqueça: no pain, more gain if you play your own game!