Fala, pessoal! Estou de volta, animadíssimo pra falar mais um pouco sobre este tema, que é um dos meus preferidos: a vida é um jogo. Se você ainda não leu o primeiro artigo (parte 1), faça isso antes de prosseguir nesta leitura.

Já mostramos, no artigo A pedagogia suprema do jogo, que os jogos se manifestam em nossa infância mais que qualquer outra atividade, porque são as mecânicas naturais do jogo da vida em sua fase tutorial. Neles aprendemos quem são os personagens principais, os valores, as regras, os posicionamentos e as habilidades básicas para começarmos a jogar à vera a partir da adolescência.

Como o estado emocional normal de se viver é em paz e feliz, mas a vida normal é cheia de percalços, os jogos não seriam tutoriais completos se não nos ensinassem a viver em paz e felizes em meio aos problemas – o que não significa ausência de momentos de luto.

Portanto, neste artigo, vamos mostrar como os jogos apontam o caminho para forjar uma mentalidade otimista e equilibrada, à prova de momentos difíceis.

Também mostraremos por que, nem sempre, conseguimos seguir esse caminho na vida real, tornando-a, assim, mais difícil do que poderia ser.

Segurança

Não há felicidade completa sem segurança completa. A preocupação sempre irá macular qualquer felicidade. Não é à toa que a grande maioria das pessoas lembre da sua infância com saudade, como tendo sido a fase mais feliz ou uma das mais felizes de suas vidas. Nela depositamos total confiança na proteção e provisão dos adultos (geralmente pais e avós), sentindo-nos totalmente seguros.

Quando jogamos somos facilmente felizes, porque, embora estejamos conscientes da realidade do jogo, outra realidade maior, que suporta e transcende a do jogo (a realidade em que vivemos), está bastante viva em nosso subconsciente, nos fazendo sentir seguros a despeito do que nos aconteça na realidade lúdica.

Assim, apesar de enfrentarmos situações perigosas no jogo, o fazemos despreocupadamente – ainda que com uma tensão moderada que nos deixa concentrados, pois não queremos morrer no jogo. Essa postura mais equilibrada perante grandes desafios nos jogos só é possível por causa da nossa forte crença de que aquela realidade lúdica não é a realidade verdadeira. Isso é um dos grandes alicerces que possibilitam sermos felizes jogando, mesmo quando lutando contra vários monstros e tendo nossa morte como iminente.

Portanto, no que diz respeito à felicidade, a um bem-estar e satisfação contínuos, os jogos apontam na mesma direção que as principais (senão todas as) sabedorias dos povos milenares: que para sermos felizes numa realidade, independentemente do que nela venhamos a enfrentar, precisamos ter uma forte crença de que sempre estaremos seguros e guardados em relação a uma outra realidade muito maior e mais importante.

Por exemplo, no único livro comum a judeus, cristãos e muçulmanos (Salmos), relata-se esta fala do rei Davi ao seu Deus:

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
Não temerei mal algum,
Porque tu estás comigo;
Tua vara e teu cajado me dão segurança.

Esperança

Outro alicerce bastante presente nos jogos e que nos permite ser facilmente felizes enquanto jogamos é a esperança de conquistarmos a vitória. Quando essa esperança acaba durante uma partida, isto é, quando conseguimos antever que a perderemos, todo ânimo para continuar jogando cessa.

Por isso que, nos melhores jogos, a definição do resultado de uma partida sempre ou quase sempre se dá no fim ou quase no fim dela, permitindo, por meio de alguns recursos intencionalmente projetados por um game designer, que um jogador, mesmo em situação bastante desfavorável e numa partida quase encerrada, ainda tenha alguma chance de vencê-la.

Como a vida é um jogo, ela também não poderia deixar de ter esses recursos. E o recurso mais utilizado para se manter a esperança em meio a situações complicadas é disparado o apelo ao sobrenatural, isto é, àquela realidade superior na qual se tem confiança, para pedir ao seu Deus uma intervenção milagrosa que lhe dê a vitória.

Como a arte também imita a vida (e não só o contrário), não são poucos os jogos que se valem da invocação de magias e outros poderes sobrenaturais para promoverem essa esperança em suas realidades.

Mas voltando à vida real: como a grande maioria das pessoas não possui toda essa fé, a ponto de confiar plenamente que o seu Deus a responderá com o milagre pedido, torna-se bem mais difícil ser feliz vivendo do que jogando, haja vista que se começa a sofrer bem antes do fim.

Outro aspecto relativo aos jogos – este mais fácil de reproduzir e observar na vida real – que favorece à esperança são os feedbacks.

Nos jogos eles são precisos, claros e rápidos a respeito do nosso desempenho em seus desafios. Isso torna facilmente perceptível ao jogador em qual nível ele está e o quanto ele já evoluiu. Por ser divertido e cheio de gatilhos mentais que nos levam ao engajamento, nunca desistimos de um bom jogo na primeira derrota, e dificilmente na segunda.

Mas e quando as derrotas começam a se acumular, querendo tirar nossa esperança? Aí os feedbacks do jogo nos mostram que elas estão nos fazendo crescer, que estamos evoluindo e que, se não desistirmos, uma hora começaremos a vencer. Portanto, nos jogos, os feedbacks mudam, da água para o vinho, o impacto das derrotas em nossa esperança: ao invés de a consumirem, a alimentam.

Na vida real, quase não medimos nossas performances ou prestamos atenção aos feedbacks naturais. A consequência disso é as derrotas só consumindo nossa esperança e sendo cada vez mais difícil ser feliz vivendo.

Para saber mais sobre como você pode melhorar o jogo da sua vida aprendendo e aplicando o Life Game Design, leia nossos outros artigos aqui no blog e siga nosso Instagram @leandrocosta.blog, onde postamos conteúdos complementares sobre gamificação e jogos sérios.

Porque, se a vida é um jogo, ser feliz é uma questão de game design. Até!

Leandro Costa

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